Não sei o motivo pelo qual eu vou me expor dessa maneira aqui em um fórum de Minecraft, mas eu acho que vai me ajudar um pouco, por mais que consequentemente vários comentários maldosos possam surgir com este post, de qualquer forma, já estou acostumado com a crítica.
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Para começar, me chamo André Felipe, tenho 15 anos e moro na cidade de Nova Friburgo - RJ. Sim, eu sou o Jessica Jones.
Muitos me perguntam porque eu sou ativista LGBT, por que eu tenho um desejo tão grande de defender as minorias? Por que esse desejo tão grande de mudar o mundo em que vivemos?
Bom, posso responder essas perguntas com várias respostas: primeiro, porque eu faço parte de uma minoria (eu sou homossexual), e eu fico imaginando outras pessoas que também fazem parte de grupos oprimidos, fico imaginando aquele negro, pobre, gay, que mora na favela, fico muitas vezes imaginando aquela transsexual que não consegue um emprego e acaba - infelizmente - se prostituindo, eu imagino aquela mulher que é assediada em um metrô lotado por um homem, e não consegue ajuda porque ninguém prefere se meter, eu imagino aquele garoto que sofre discriminação por parte da própria família por ser gay (e esse não é muito difícil de imaginar, na verdade, é só eu imaginar alguém como eu), imagino também aquela mulher que sofre agressões do próprio marido e não consegue pedir ajuda porque tem medo que ele mate-a, enfim, imagino milhões de situações que acontecem todos os dias pelo mundo inteiro e... ninguém faz nada. Eu sei que as pessoas não fazem nada porque muitas vezes essas coisas não acontecem com elas e eu entendo as entendo, porque eu já fui assim um dia, e até que nada acontecesse comigo eu fui esse tipo de pessoa, desde que não acontecesse comigo estaria tudo bem.
Eu me descobri gay aos meus onze anos de idade, naquela época eu ainda não tinha muito acesso a informação, e qualquer coisa que eu perguntasse aos meus pais a respeito de homossexualidade, eles me responderiam com respostas ultraconservadoras e que com certeza não me ajudariam em nada, respostas características deles. Passei um bom tempo pensando que isso tudo é errado, passei um bom tempo reprimindo a mim mesmo, pra ser mais preciso, até que eu completasse quatorze anos. Com quatorze anos eu comecei a desenvolver em mim um senso critico, por exemplo, "meus pais me disseram que a mulher deve ser submissa a seu marido, e que uma mulher que não tem um marido não consegue ser feliz. Por que isso está certo? Isso está certo? Será que eles estão errados? Vou pesquisar sobre isso..." e foi assim que eu comecei a desenvolver o que eu chamo de senso crítico. Naquela época eu ainda seguia uma religião, deixei ela assim que comecei a desenvolver tal senso e me questionei se as coisas que a minha religião pregava condiziam com meus pensamentos, e a resposta que eu encontrei foi negativa, quando eu deixei de seguir minha religião meus pais não se importaram muito - naquela época.
Mesmo depois de ter desenvolvido o que eu chamo de senso crítico, passei um bom tempo me questionando sobre minha sexualidade, inclusive, até pedi pra ficar com uma amiga pra ver se eu realmente não me atraía por mulheres. Me perguntei se eu tinha escolhido seguir esse caminho, e simplesmente nunca encontrei respostas pra isso, simplesmente, porque eu realmente não escolhi isso, ninguém escolhe a própria orientação sexual, até porque, o ser humano não tem capacidade para controlar o desejo (nós temos capacidade para restringir o comportamento, mas não o desejo).
Vou pular um pouco da estória e passar para a época que eu chamo de "o inicio da idade das trevas". O que seria isso? Bom, seria a época em que meus pais descobriram que eu sou gay. Não, antes que me perguntem, eu não contei isso pra eles. Eles descobriram isso porque souberam que eu estava namorando um garoto (quer dizer, ainda estou namorando ele), e foi aí que "minha casa caiu". Sinceramente, como eu já conhecia a figura dos meus pais, eu não desejava contar para eles nem tão cedo, na verdade, tinha meus planos: iria esperar até que eu não dependesse mais deles, e aí sim iria contar para eles. Mas para a minha infelicidade, eles descobriram.
A reação dos meus pais não foi nada boa, pelo contrário, foi péssima, claro, há pais que reagem MUITO pior do que eles. Imediatamente minha mãe já começou a me atacar com a questão da religião, por mais que ela saiba que eu sou declaradamente ateu, disse milhares de besteiras para mim, disse que eu estava - de acordo com ela - com um "demônio" no meu corpo, um "demônio" que quer destruir a minha vida, disse que eu nunca vou ser feliz, que eu nunca iria ter uma família (na definição que ela tem de "família") e que eu nunca vou poder ter filhos. Meu pai caiu em lágrimas, pensei que ele lidaria um pouco melhor com essa situação, mas eu me enganei (como em muitas outras situações na minha vida, sempre me engano com ele), disse que me levaria à uma casa de prostituição para que eu "virasse macho" (creio que a definição de macho para ele é ser heterossexual), mas minha mãe não concordou com isso, e - obviamente - eu também não! E pra finalizar, a minha mãe me disse uma coisa que me marca profundamente, "Eu nunca vou aceitar ter um filho gay".
A "solução" encontrada por eles, foi me levar a um psicólogo, obs: Um psicólogo ultraconservador (que também é pastor), que disse para mim coisas até piores do que os meus pais já haviam me falado. É claro que eu não estou aqui abrindo minha vida completamente para vocês, até porque, eu precisaria de um livro para isso, e isso é só um simples texto onde eu ignoro coisas como: minha mãe passou a me obrigar a frequentar a igreja dela; minha mãe não me trata mais como filho desde que ela descobriu isso; minha mãe me ameaçou a não bancar mais meus estudos; meu pai me ameaçou a me levar para morar em São Paulo (meu pai meio que vive lá, ele tem algumas lojas lá); minha mãe já me agrediu fisicamente em decorrência disso tudo; meu namorado acha que a culpa é toda dele; minha mãe congelou todo o meu dinheiro da minha poupança para que eu não consiga fugir de casa (e aí entra mais uma estória. Bom, assim que isso tudo começou, eu entrei em contato com uma pessoa para ver se eu poderia morar com ela por algum tempo, ela permitiu, porém, mas ela não conseguiria ficar comigo por muito tempo, pois ela precisaria de - no mínimo - uma ajuda financeira.); que meus pais me proibiram de ver meus amigos LGBTs; entre muitas outras coisas. Provas disso tudo? Sim, eu tenho, desde que meus problemas começaram eu passei a gravar todas as discussões que acontecem em relação a isso, então, no caso, todo santo dia eu tenho que gravar alguma coisa, já que todo o dia o assunto é retomado.
Já pensei MUITAS vezes em suicídio, mas não tive coragem para isso, e sei também que isso não é a maneira correta para resolver meus problemas, isso não ajudaria em nada, e também, eu não vou viver isso pelo resto da minha vida, um dia eu vou sair daqui e vou finalmente livre.
Sei que talvez eu não esteja transmitindo para vocês tudo o que eu tenho passado, então sei que muitos de vocês não estão nem mesmo entendendo o sofrimento que é. Óbvio, sei que o que eu estou passando (sim, eu passo por essas coisas todos os dias) não é a pior coisa do mundo, há muitas pessoas que sofrem MUITO MAIS com coisas relacionadas todos os dias, há pessoas até mesmo que são mortas! Há pessoas que sofrem sérios atos de violência (e não, o que eu sofri não foi sério, foi "somente" tapas)! E por isso eu luto todos os dias para evitar que isso não aconteça com outras pessoas também. Sei que ainda sou muito jovem para conseguir mudar um país inteiro, mas sonho, para que em algum dia eu consiga isso. Tenho planos de entrar para a política futuramente (como deputado f.), para tentar representar todos esses grupos de pessoas que eu citei, e fazer com que em algum dia tudo isso acabe. Alguns vão dizer que eu sonho demais, mas eu vou dizer, EU SONHO, E EU VOU CRER, E FAZER DE TUDO PARA QUE EM ALGUM DIA ELE POSSA SE TORNAR REALIDADE. Sonho sim, para que em algum dia "racismo", "machismo", "sexismo", "homofobia", entre outras, sejam somente palavras. E se querer isso é sonhar demais, ok, pode me chamar de sonhador.
Não sei se eu falei muito, não sei se eu falei pouco, não sei se eu consegui me expressar corretamente, mas espero que eu consiga passar a mensagem que eu quero, ou pelo menos, tentar explicar o motivo pelo qual eu luto por um Brasil e um mundo melhor para todos.
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Atenciosamente, André Felipe.
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